quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Funai convoca aprovados para escolha de vagas

A Fundação Nacional do Índio (Funai) convocou, ontem, os candidatos aprovados ao cargo de auxiliar em indigenismo para a escolha das unidades onde serão lotados, em obediência ao critério de classificação final.
Os 75 classificados vão poder optar por trabalhar nos Estados do Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima, Mato Grosso, Amapá e Pará.
De acordo com o documento, os nomeados devem se apresentar para a cerimônia de posse até o dia 5 de outubro, nos endereços listados em edital. As informações foram publicadas no Diário Oficial da União, a partir da página 102 da seção 3.
O concurso ofereceu 425 oportunidades de níveis Fundamental, Médio e Superior. Houve chances para os cargos de auxiliar em indigenismo (75), agente em indigenismo (150) e indigenista especializado (200).
De acordo com o edital de abertura, as remunerações são de R$ 3.080,38, R$ 3.321,90 e R$ 4.085,28, respectivamente. Segundo informações do Instituto Cetro, empresa responsável pela seleção, foram contabilizados mais de 110 mil candidatos inscritos, o que representou uma concorrência de 259 candidatos por vaga.

Acordo entre MEC e FUNAI possibilita a implementação dos Territórios Etnoeducacionais

Em cumprimento ao Decreto nº 6.861, de 27 de maio de 2009, o Ministério da Educação (MEC), em parceria com a Fundação Nacional do Indio (FUNAI), Governos Estaduais e Municipais estão discutindo e pactuando com representantes dos povos indígenas sobre os Sistemas de Ensino, a implementação dos Territórios Etnoeducacionais como mecanismo institucional e gerencial para o desenvolvimento da educação intercultural indígena, considerando os contextos socioculturais e as perspectivas próprias de cada povo, seus projetos de futuro e de continuidade cultural.

Essa política propõe construir um novo modelo de planejamento e gestão da educação escolar indígena, que tenha como principal referência a territorialidade desses povos, ou seja, as suas especificidades sociolingüísticas, políticas, históricas e geográficas, que, na maioria dos casos, não coincide com as divisões político-administrativas em estados e municípios.

Os Territórios Etnoeducacionais são áreas definidas a partir de consulta aos povos indígenas, e estão relacionados à sua mobilização política, afirmação étnica e à garantia de seus territórios e de políticas específicas nas áreas da saúde, educação e etnodesenvolvimento, conforme determina a Constituição Federal de 1988. Pretendem também organizar um conjunto de redes e sistemas de ensino, pesquisa e extensão, organizações da sociedade civil e outros órgãos públicos, e pressupõem o protagonismo dos povos indígenas, enquanto sujeitos políticos de direitos na definição e condução de seus projetos societários, e na interlocução com os agentes públicos.

Como resultado, já foi firmado parcerias para desenvolvimento de ações em sete Territórios Etnoeducacionais, são eles: Rio Negro, Baixo Amazonas, Juruá/Purus, Conesul, Povos do Pantanal, Xavante, Xingu e Bahia) e outros 29 territórios estão em fase de implantação e consulta. Nesse processo estão sendo pactuados planos de ação entre representantes dos povos indígenas e das instituições com protagonismo na educação escolar indígena, com o objetivo de orientar as ações de cada uma dessas instituições no âmbito dos territórios para os próximos 4 anos. A execução desses planos de ação será acompanhada por Comissões Gestoras paritárias, compostas por representantes indígenas e das instituições. A articulação e operacionalização do processo são feito em conjunto MEC e FUNAI.
Confira o Calendário dos Territórios Etnoeducacionais, que podem ocorrer possíveis modificações: http://bit.ly/9JjYUa

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O Brasil perdeu a guerra fria em 1964

Nesta solenidade sobre a resistência, a contribuição que a família Goulart pode oferecer - é suscitar o debate de que está na hora de admitir que o BRASIL perdeu a Guerra Fria.Após 40 anos da perda da nossa soberania, podemos encerrar a controvérsia, pois com a desclassificação dos documentos secretos norte-americanos estão definitivamente comprovados o patrocínio estrangeiro do golpe militar e o tamanho da farsa orquestrada em 01 de abril de 1964.
Quantas calúnias, injúrias e difamações sofreu a memória de meu pai, João Belchior Marques Goulart?Hoje, uma compreensão mais exata do processo de perda de nossa soberania demonstra de forma inequívoca que Jango foi sábio o suficiente para recusar uma guerra civil sangrenta planeada para quebrar a unidade nacional. Jango não teve como evitar a derrota de nosso país, mas é o maior responsável pela integridade nacional que ainda perdura!
Sim, o objetivo estratégico do golpe de 01 de abril de 1964 era uma guerra civil que inviabilizasse o nascimento de uma nova potência mundial no hemisfério Sul do planeta. Esta era a previsão da CIA e mais uma etapa da guerra fechada promovida contra o nosso país desde 1945. Ora, as dívidas de sangue não se apagam.Onde existem dívidas de sangue morre o bom senso, ninguém perdoa ninguém.Uma guerra civil sangrenta teria por resultado o separatismo ou o Brasil se transformaria num Líbano. Era a morte certa da 4ª. potência mundial.
Talvez poucos brasileiros tenham registro na memória que a popularidade de João Goulart na época do golpe militar alcançava a cifra de 80% (oitenta por cento) do eleitorado. O apoio de grande parte das forças armadas pode ser medido pelo fato dos golpistas precisarem afastar mais de 4.000 militares legalistas para consolidar a ditadura. A CIA contava com a resistência legalista!
A proibição de pegar em armas para resistir dada por João Goulart aos legalistas, pegou os mentores do golpe militar desprevenidos, pois do mesmo modo que Getúlio Vargas fez em outubro de 1945 diante do golpe apoiado pelo embaixador Adolfo Eberle, o exílio voluntário de Jango anunciava seu retorno quando o processo democrático fosse restabelecido. Tal como Vargas em 1950!
Daí somos obrigados a rever a morte do Marechal Castelo Branco, um marionete que não conseguiu nem ganhar a eleição para o Clube Militar em 1962, mas tinha assumido o compromisso público e moral de promover eleições democráticas em 1965. Como poderiam deixar o marechal promover eleições e restabelecer a democracia, se sob a legalidade Jango era imbatível?
Este é o legado político de Jango! A integridade Nacional. Ele sabia que por detrás dos traidores da pátria estava a maior potência militar do planeta e que não havia vitória pelo caminho das armas. Jango renunciou ao maniqueísmo estrangeiro que já tinha articulado o separatismo, conforme mostram os documentos desclassificados com a possibilidade de declaração de independência do Estado de Minas Gerais e o desembarque de tropas estrangeiras, caso houvesse resistência dos legalistas contra a insurreição militar!
Jango diminui o tamanho da derrota do Brasil com seu exílio voluntário em 01 de abril de 1964, mas o que precisamos entender é que a queda do governo de João Goulart representou um dos ápices da guerra fechada promovida contra a América Latina. O Brasil era um dos principais baluartes da democracia, da Autodeterminação e Independência dos povos. A queda do Brasil teve um efeito dominó sobre as demais democracias latino-americanas.
O Brasil de hoje precisa entender a extensão da derrota que sofremos. Como aconteceu a perda de nossa autodeterminação e de nossa vontade soberana? Precisa entender que nossa submissão à potência hegemônica foi resultante de uma estratégia de Guerra...
Ora, o que é uma guerra? Clausewitz dizia que “a guerra é mais que um duelo em grande escala. A guerra é um ato de violência que visa compelir o adversário a submeter-se à nossa vontade.”
Outro estudioso, Hans Del Bruck teria sido o primeiro a assinalar que como havia duas formas de guerra, limitada ou ilimitada; deduz-se que deve haver duas modalidades de estratégia : a da aniquilação e a da exaustão. Enquanto na primeira a meta buscada é a uma batalha decisiva na forma convencional; na segunda estratégia da exaustão, a batalha representa apenas um dos vários meios utilizáveis, que incluem o ataque econômico, persuasão política e a propaganda para que o fim político seja alcançado.
A estratégia de exaustão não foi concebida por Del Bruck, pois Frederico o Grande já a chamava de Estratégia dos Acessórios e na verdade, o emprego dela tem sido glorificado por séculos. A estratégia da exaustão era chamada de tática da Espada embainhada pelo chinês Sun Tzu que afirmava em seu livro sobre a Arte da Guerra:
“Lutar e vencer em todas as batalhas não é a glória suprema; a glória suprema consiste em quebrar a resistência do inimigo sem lutar”.
Especialistas afirmam que o advento das armas nucleares e que o uso da bomba atômica sobre a cidade de Hiroxima praticamente tornou obsoleta a guerra convencional. A estratégia da exaustão passou a preponderar na guerra moderna depois de 1945, sendo realizada por meio de ações indiretas ou espoliativas.
Em que consistem as ações indiretas da estratégia da exaustão? Podemos citar o general romano Flavius Vegetius: “É melhor dominar o inimigo, impondo-lhe a fome, surpresa ou terror do que por uma ação geral, pois nesta a sorte tem amiúde preponderado mais que o valor!”.
Do ponto de vista dos especialistas podemos consideramos a guerra fechada uma doença do organismo social e podemos afirmar que os sinais sintomáticos que nos permitem diagnosticar sua existência são: a Miséria, a Ignorância, a Violência, a Insegurança e a Quebra da Autoridade Moral.
A Miséria resulta num quadro de injustiça que impossibilita o crescimento do organismo social, pois estabelece um conflito interno que retira energias da sociedade. Como promover a miséria de outro estado?
No Brasil, historicamente, vem se adiando a Reforma Agrária desde a abolição da escravatura. Uma redistribuição de riquezas que era necessária para nossa pacificação social e um desafio que o Governo de João Goulart resolveu enfrentar porque tinha uma agenda de interesses nacionais a cumprir!
A principal arma utilizada para promover a miséria tem sido a usura.O sistema financeiro nada produz e a cobrança de altas taxas de juros retira todo o excedente de riqueza da sociedade, estanca o crescimento econômico, a criação de empregos e a conseqüente melhora de vida do trabalhador!
Principalmente, depois do Golpe de 01 de abril de 1964, o Brasil vem mantém uma das mais altas taxas de juros do mundo. Mesmo assim, continuamos crescendo, porque o governo de Jango, ao criar meios de financiar do sistema Eletrobrás em 1962, estabeleceu a expansão da matriz energética que sustentou o “Milagre Econômico”!
O bem estar criado pelo “milagre econômico teve pouca duração diante do processo hiperinflacionário da década de 80." Outro exemplo de usura que exauriu recursos e fez cair o padrão de vida obtido pela classe média na década de setenta.Todo nosso excedente de riqueza é drenado pelo sistema financeiro e pelo endividamento do Estado.
A manutenção das altas taxas de juros de hoje não encontra justificativa na atual economia do planeta e é sintoma de que permanecêssemos sob tutela alheia.O Brasil já perdeu tanta riqueza!
Em termos econômicos o Brasil perdeu o “negócio da China”. A leitura da crise de 1961 sob o ponto de vista da guerra fechada nos mostra que o objetivo principal da intervenção externa era impedir a consolidação do acordo de Pequim.
Vejamos qual foi a meta econômica visada pela guerra fechada: nós éramos 60 milhões de brasileiros e iríamos exportar para 800 milhões de chineses todo tipo de produto de alfinete à navio – o maior negócio da História da Humanidade!
O assunto era tão sério que o plano de invasão norte-americano do território do Brasil data do ano de 1961. A solução da crise pela implantação do parlamentarismo atendeu os interesses externos, pois entre os poderes do primeiro ministro estava a decisão de ratificar ou não os acordos internacionais...
Alguém quer calcular o tamanho do prejuízo que tivemos ao perder o “negócio da China”? Basta pensar que o segundo país a procurar a China foram os Estados Unidos, quando o dólar deixou de ter lastro em ouro e desvalorizou 70 % gerando uma crise econômica que nunca foi causada pelo preço do petróleo. Nixon foi à China, a guerra do Vietnam acabou e nós perdemos os frutos de um comércio bilateral explorado intensamente pelos norte-americanos desde 1971.Na verdade, o capitalismo brasileiro também foi derrotado a partir da década de 60 mediante uma estratégia de espoliação para gerar miséria no Brasil...
A estratégia da Ignorância também foi utilizada contra o Brasil primeiramente pelo uso da propaganda e da desinformação. Os documentos da CPI do IBADE mostram como a imprensa e os meios de comunicação sofreram uma investida irresistível.A imprensa nacional foi definitivamente contaminada, pois a mesma já vinha sendo utilizada para atacar o trabalhismo de Vargas.
No Governo João Goulart, a propaganda e a desinformação foram intensificadas! Além de derramar recursos em todo território nacional arrendando redações, contratando e demitindo jornalistas fornecendo recursos ao IBADE, a CIA por meio do IPES presidido pelo Golbery enviava um “informativo” semanal para a maioria dos oficiais da ativa das forças armadas, promovendo um recrutamento ideológico e buscando desestabilizar o governo por meio da difamação e da calúnia. O levantamento da pesquisadora Denise Assis, mostra que entre 16 e 1964, foram produzidos 200 filmes de propaganda pró-golpe de 1964. Um filme a cada três dias...
É óbvio que o desmantelamento da Universidade brasileira também pode ser creditado à estratégia da exaustão pelo fator da ignorância, mas o maior exemplo que podemos citar é o fim do programa de alfabetização de adultos criado por Jango em 1963 com o apoio do educador Paulo Freire. Em 1969, os analistas da CIA chegaram à conclusão que o programa de alfabetização precisa ser desativado porque estava levantando o nível de consciência política dos brasileiros...
Dá raiva saber disso, mas é preciso ter consciência de que ele usa o fator da Violência na Estratégia de exaustão para criar a insegurança pública. A insegurança contamina toda sociedade e drena energias que poderiam ser usadas para o bem estar social. Existe um estudo de uma pesquisadora norte-americana que explica que o súbito desmantelamento da polícia comunitária criada por Getúlio Vargas em 1933, a famosa dupla Cosme e Damião, tinha por objetivo desestabilizar a sociedade e favorecer o golpe de Estado com a quebra do aparato.
A retirada do policiamento das zonas pobres e periféricas teria ocorrido nos anos de 1957 e 1958 por influência do FBI e da CIA. Realmente, no ano de 1958, o Morro de São Carlos no Rio de Janeiro desceu para o asfalto para protestar contra a retirada do policiamento comunitário ali instalado há 25 anos: “Se retirar a polícia, a bandidagem vai crescer, seu doutor!”.
Uma pesquisa mais atenta dos acontecimentos próximos das eleições de 1960 vai apontar a promoção de diversos atentados à bomba sem autoria e sem explicação! Os documentos secretos em posse do Instituto João Goulart mostram que havia um atentado à bomba planejado para acontecer no comício da Central do Brasil em 13 de março de 1964 do qual os traidores desistiram para não criar um mártir.
Todos estes fatores da estratégia de exaustão trabalham para a divisão e a desintegração do organismo social, mas uma das piores feridas é provocada pela quebra da autoridade moral, pela traição e pela corrupção.
A contaminação das forças armadas brasileiras tem início na Itália e têm entre seus personagens a pessoa de Vernon Walters conhecido pela capacidade de interrogar, quebrar a resistência e converter os soldados alemães em colaboradores. Em 1942, os norte-americanos tinham 11 (onze) centros de inteligência militar instalados no Brasil. Toda rede nazista de espionagem no Brasil foi herdada pelos Serviços de Inteligência norte-americana e monitorada pelo futuro diretor da CIA Allen Dulles. Em 1942, Golbery freqüentava uma academia militar nos Estados Unidos. Em 1943, 03 geólogos norte-americanos foram enviados ao Brasil para fazer um levantamento das jazidas minerais que os Estados Unidos classificaram como reserva estratégica...
A quebra da autoridade moral se dá pelo uso da calúnia. A calúnia tem a natureza do carvão quando não queima suja. Foi intensamente usada contra Getúlio Vargas, pois era preciso desmistificar o “Pai dos Pobres”. E para isso se criou uma mentira fortíssima, acusaram Getúlio de mandar uma mulher grávida para os fornos nazistas, quando Olga Benário foi extraditada por ordem do Supremo Tribunal Federal em 1936, antes do Estado Novo.
O delegado Pastor que presidiu o inquérito do atentado da Toneleros está vivo e pode confirmar que o Major Vaz tinha dois tiros cruzados no coração, pelo que existiam dois atiradores de elite, e por conseqüência, podemos deduzir que Carlos Lacerda, o tal que engessou o pé ferido por bala, nunca foi o alvo real...
Golbery esteve presente em todas as insurreições militares desde o golpe de outubro de 1945 até o golpe de 01 de abril de 1964! Golbery escreveu o manifesto dos ministros militares contra a posse de Jango e presidiu o IPES sendo assalariado pela CIA. O corpo de espionagem norte-americano no Brasil inclui o embaixador brasileiro e sua esposa em Cuba em 1961 que recrutaram a irmã de Fidel para trabalhar para a CIA.
O embaixador Pio Correa antes de criar o Serviço de Informações do Itamaraty, fez trabalho de campo como espião para a CIA no México, recebendo elogios da Agência norte-americana em 1964, antes de ser nomeado embaixador no Uruguai para vigiar o presidente no exílio.
Jango foi alvo de uma intensa campanha de difamação. Antes durante e depois do governo foi acusado de comunista. Jango nunca foi comunista, mas como de fato ficou registrado pelo próprio Kennedy em gravações na Casa Branca, admitia que o presidente brasileiro não fosse, mas que esta difamação seria uma das armas usadas contra ele.
Jango foi alvo de mais de 200 processos promovidos para manchar sua reputação e honra, mas se defendeu em todos e provou sua inocência. Jango foi acusado de presidir um governo fraco, mas na verdade a história demonstra que reuniu um ministério de notáveis e desenvolveu um projeto de nação capaz de gerar o desenvolvimento nacional.
A quebra da autoridade moral não está circunscrita a pessoa do presidente João Goulart, foi extendida a todos os homens comprometidos com o nacionalismo e dois anos antes do golpe um relatório do setor de informações já apresentava a lista de todos os homens do governo Jango que seriam caçados e perseguidos em 1964.
Diversas “covers actions” forma promovidas contra o Brasil e a diversificação, o número e os recursos envolvidos são espantosamente altos. O pesquisador Carlos Fico da UFRJ lista dezenas de tipos de ações encobertas no seu livro o Grande Irmão cuja conclusão é pobre, pois responsabiliza os brasileiros pelos resultados de uma irresistível Guerra Fechada promovida por meio de ações indiretas.
A CIA patrocinou a campanha de deputados e senadores que fizeram e/ou permitiram a fraude da declaração de vacância da presidência. A CIA também patrocinou passeatas e usou o manto sagrado de Deus e da Família para recrutar colaboradores em todas as camadas de nossa sociedade. Hoje, estas pessoas, autoridades, senadores, deputados, generais, empresários, funcionários públicos e muitos outros só podem ser considerados inocentes úteis ou traidores na História do Brasil.
O departamento de Estado norte americano e a CIA tiveram de cumprir leis e divulgaram provas suficientes de que Jango é o mártir da causa republicana no século XX. Perdemos nossa soberania em 01 de abril de 1964!
A difícil decisão de Jango de combater o golpe sem fazer uso das armas, preservou nossa integridade territorial. O que fazer? Ficar em silêncio quando finalmente existem documentos que desautorizam a continuidade da Mentira e desnudam a verdadeira face dos golpistas como traidores do Brasil!
A maior autoridade diplomática norte-americana no Brasil de 1964, o embaixador Lincoln Gordon veio ao nosso país em 2002 vender a confissão de que a CIA tinha patrocinado o golpe e a eleição de membros do congresso nacional!
O que fazer? A família Goulart decidiu processar o governo norte-americano que descumpriu sua própria carta constitucional e todos os compromissos de Estado assumidos pelos Estados Unidos da América mediante a subscrição da Carta da OEA.
O Brasil precisa conhecer o valor do Estadista que preservou a unidade nacional, quando a tirania tomou conta do Brasil. Jango precisa receber o desagravo devido ao líder legítimo desta nação que foi alijado da presidência por forças e interesses estrangeiros e de traidores.
O verdadeiro resgate da soberania nacional começa com o desagravo e o reconhecimento públicos do valor da resistência pacífica de Jango contra a insurreição militar dos traidores de nossa pátria que preservou a integridade nacional.
Acreditar que não podemos mudar nosso país e que precisamos nos conformar com a situação é obedecer à psicologia de massa usada como amortecedor pelas forças que atuam para impedir o exercício de nossa soberania!
Acreditamos que, neste momento, a defesa da soberania do Brasil precisa obedecer aos princípios consagrados pela política de Estado de Jango: Resistência Pacífica, Legalidade, Diálogo, Democracia e Justiça Social!
João Vicente Fontella Goulart

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Amazônia Século XXI – Sobre os Novos Amazônidas

*Por Sandoval Amparo
Foto: Sandoval Amparo sendo pintado pelo Kaikware no Moikarakô, durante a festa do Milho



Quando no segundo semestre de 2000 assisti à palestra da Bertha Becker, renomada geógrafa e professora do famoso e importante Departamento de Geografia da UFRJ era ainda um iniciante nas questões da Geografia ativa, literalmente, pois era calouro da UFF, e esta tinha sido a palestra inaugural da minha turma, tendo sido neste semestre que iniciamos nossa jornada por este importante rumo que é a Geografia. Confesso que sabia muito pouco sobre as coisas naquela época. Me fascinava as aulas do Carlos Walter (premiado Prof. Dr. Carlos Walter Porto Gonçalves, da UFF), a geomorfologia e os mapas e imagens de satélite do Rio de Janeiro expostos no Departamento de Cartografia e, principalmente, as atividades de campo, prática de extremada importância na formação do geógrafo qual seja o campo de atuação que tenha este escolhido.



Muito atento, mesmo sem saber direito de quem se tratava, lembro ainda hoje da exposição da Profa. Bertha, depois publicada em livro, mesmo tendo ficado um tanto triste com o fato de não termos pegado a palestra do Prof. Aziz Ab’Saber, talvés o mais importante geógrafo brasileiro da história (juntamente com o Milton Santos e Josué de Castro), que houvera feito preleção à turma que nos antecedeu em um semestre. Daquela palestra no auditório Milton Santos, no Instituto de Geociências da UFF, me lembro particularmente de dois pontos da exposição da Profa. Bertha que me chamaram a atenção. Ela alertava aos alunos que haviam ido para a geografia através de uma leitura romantizada da natureza que: 1. A geografia é, antes de tudo, uma ciência social; e 2. Que a Amazônia do século XXI é, finalmente, uma região dominada pelo pensamento urbano, tendo apresentado dados que mostravam a existência em toda a Amazônia legal de quase dois mil núcleos urbanos, com uma população total superior a 10 milhões de habitantes, milhares de veículos, e que destas cidades partem as políticas e ideogramas que foram e são aplicados na região.



A pertinência da observação da ilustre geógrafa, uma das fadas-madrinhas do sucesso e reconhecimento profissional que os geógrafos tem conhecido neste início de século XXI é notável. À excessão de Manaus, Belém e outros núcleos distantes fundados segundo um padrão militarista de uso de território, assim mesmo sempre associados à exploração de recursos como a seringa, a castanha e outros, a maioria das cidades amazônicas são de quarenta, cinqüenta anos pra cá, tendo sido fundadas no rastro da Expedição Roncador-Xingu, famosa expedição idealizada pelo Ministro João Alberto durante o governo Getúlio Vargas, em plena II Guerra Mundial (década de 1940), que ficou conhecida como a “ultima bandeira” realizada no Brasil, e que legou ao mundo a figura carismática dos irmãos Villas-Boas e a demarcação do Parque Indígena do Xingu, considerado como a grande obra duradoura deixada pelo efêmero e polêmico presidente Jânio Quadros, segundo Antônio Callado.



Pois bem, as cidades amazônicas do século XXI nada tem do paraíso idílico que ainda apaixona a milhares de jovens e senhores dos principais núcleos urbanos do Brasil litorâneo, do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre. Ao contrário, constituem cidades que foram fundadas com o objetivo básico e já velho conhecido deste suado país, de inibir e se possível, extinguir a presença indígena do território, ou seja, estas cidades exercem grandes pressões sobre as áreas demarcadas para os índios. Aos poucos, toda grande extensão de terras amazônicas que não estão demarcadas são culturalmente dominadas por não-índios, de diferentes origens: sulistas, paulistas, goianos e maranhenses, dentre outros... De acordo com suas origens, estas pessoas, os novos amazônidas, assumem funções específicas neste processo incessante denominado de territorialização pelo querido antropólogo João Pacheco de Oliveira Filho, a continuidade do processo de branqueamento da população. Os sulistas na Amazônia constituem a exegese do processo de colonização ocorrido ao longo do século XIX no sul do país. São em sua maioria produtores de soja, trigo e grãos em escala industrial. De um modo geral abominam o índio e suas representações, que segundo eles, são preguiçosos e vagabundos, porque possuem muitas terras e nada produzem nelas, além de viverem sempre lhes trazendo prejuízos diversos, devido aos negócios que são fechados com base na exploração dos recursos da aldeia, mas que são sempre coibidos por iniciativa da Funai. Não raro ouve-se de alguns deles que coisas do tipo, se você gosta de índio, leva o Paiakan pra sua casa e dê de mamar a ele...



Goianos e mineiros são os produtores de gado e fazendeiros. Andam em suas caminhonetes e tão grande é a influência, que a maioria das cidades da Amazônia oriental, nos estados do Pará e Mato Grosso, parecem culturalmente mais ligadas a Goiânia que a Belém ou Cuiabá. Goiânia, de fato, é cidade onde possuem suas residências a maioria dos grandes fazendeiros desta região. E também onde o filhos mais nobres destas cidades se deslocam para cursarem suas faculdades de Direito, Odontologia e Medicina, e também de onde vem a maioria dos músicos de musica sertaneja que cruzam o sertão amazônico numa febre que faz com que milhões de residentes além dos próprios índios se deslocarem para as cidades quando rola um show do Bruno e Marrone ou Gino e Geno, dentre outros. Os brasilienses e pessoas vindas de outras capitais, como Belém, Cuiabá, Rio de Janeiro e São Paulo, vem geralmente para assumir funções destacadas no serviço público ou nas empresas mineradoras e outras que com os anos vão se instalando na região, afim de promover a exploração dos recursos. Disputam com os fazendeiros a categoria de elite local, pois são geralmente pessoas bem formadas, mas que não possuem o poder econômico e político, na mão dos primeiros.



Maranhenses, cearenses, nordestinos em geral, como reza a velha prática, são aqueles que assumem as funções mais árduas: são os trabalhadores braçais, os peões das fazendas, os garimpeiros do árdua labuta em condições precárias, os executores de aluguel, etc.
Nestas cidades, crescem vertiginosamente as periferias e favelas. No Pará, por exemplo, quase não há asfaltamento e serviços públicos efetivos: educação precária, saúde precária, membros dos poderes públicos precariamente mobilizados e as instituições públicas prevalece o interesse privado sobre o coletivo. Drogas, inclusive pesadas, que assolam os grandes centros, já se fazem presentes nestas cidades, e cada vez é maior o número de viciados em químicos como cocaína, que chega diretamente de países como Bolívia e Colombia através das inúmeras pistas de pouso clandestinas, e craque, a nova epidemia do século XXI. Nas festas organizadas por agroboys, caminhonetes com sons superpotentes ostentam a música de DJs famosos, mesclada a músicas regionais, como o calipso e outros ritmos. O consumo de álcool é algo muito comum, inclusive por crianças, bem como o uso de motos em quaisquer condições, sem capacetes ou quaisquer materiais de segurança. Jovens empinam suas motos como se fossem pipa na praça central de Tucumã, e ao invés de reclamações, são aplaudidos por aqueles que desejam imitá-los. As motocicletas são, juntamente com a caminhonete, os veículos mais encontrados nesta região, devido às facilidades e ao baixo consumo de combustível. O uso de capacete ou cinto de segurança é motivo de deboche, coisa de fresco, como por aqui se diz.



O índios, antigos moradores destes locais onde hoje se instalaram cidades como Redenção, Marabá, Tucumã, São Felix do Xingu, Canarana, Barra do Garças, dentre outras tantas, são mal vindos nestas cidades: tanto os agentes da Funai, em sua maioria com origens semelhantes aquelas descritas acima, quanto os regionais em geral, relatam que os índios estão perdendo sua cultura, que não querem mais ficar em suas aldeias, que agora só querem viver nas cidades, beber refrigerantes e cerveja, e andar em caminhonetes. Há aqueles que acreditam, equivocadamente, com base em fatos inverídicos, que os índios recebem cada um um salário da Funai, o que aliás, acham um absurdo, já que os índios vivem, segundo crêem, melhor que eles.
Em nossa dissertação de mestrado, defendida recentemente junto à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB, apresentamos nossa posição sobre este tema. A mesma está disponível para download no site do Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo daquela universidade. Não será o caso de abordá-la, pois a mesma trata de outra região que não a Amazônia. Entretanto, na parte em que faz uma abordagem geral das relações entre indigenismo e urbanização, defendemos que esta perspectiva é bastante conservadora e, agora, sem a pressão da banca ou de um trabalho acadêmico, diríamos até equivocada: a aldeia não é o lugar do índio, mas tem sua duração – ou pelo menos tinha – associada a um ciclo que envolvia a roça, a festa e o ritual, após o que migravam suas aldeias de lugar. Segundo Paulinho Paiakan, destacada liderança Kaiapó (mebengokré) e servidor da Funai qui em Tucumã, as aldeias dificilmente duravam mais que dois anos – a mobilidade era muito mais efetiva que a fixidez. Atualmente, sem ter mais para onde migrar dentro de um domínio fitoecológico, As aldeias acabaram por sedentarizar-se, ilhadas por cidades e fazendas que se situam ao longo de todas as terras indígenas demarcadas. Com isso, os índios não podem mais dar-se ao luxo de extinguir, dividir o grupo e fundar aldeias novas em locais distantes, como era típico de suas tradições, pois os locais para edificação de aldeias são cada vez mais escassos, sendo agora restritos à Terras Indígenas demarcadas.



Considere-se ainda que nenhuma terra indígena corresponde efetivamente aos territórios ancestrais de domínio de determinado grupo, sendo antes, a expressão de uma política autoritária até, que restringe os índios a estes territórios, e com base no que se funda o argumento preconceituoso exposto anteriormente, no qual o índios não quer mais viver nas aldeias. Infelizmente, muitas terras indígenas são a expressão de indigenistas positivistas e muitas vezes arbitrários, que objetivavam não mais que mostrar serviço, deixar um legado para seu reconhecimento diante dos índios.



Esse é, pois, o legado do século XXI. A Amazônia urbanizada que daria inveja aquele colega que uma vez disse, em tom de sátira que por ele, derrubava tudo e contruía um grande estacionamento na Amazônia, em tom de deboche contra um ambientalista chato que nos incomodava enquanto tomávamos nossa cerveja no Bar do Osama, em Niterói... A Amazônia do século XXI é marcada pelo medo e pela violência, é um esaço dominado pelo tiro, e os índios, ai, que será destes índios, o progresso avança assolador sobre seus costumes e terras ancestrais...
Por fim, concluímos com as palavras de Orlando e Claudio Villas-Boas, que pensaram esta região, o Xingu, como “novos São Franciscos” da integração nacional, remetendo talvés ao próprio modo oligárquico como a coisa ocorreu no nordeste agrário. Eis a palavra de ambos:

“O grande sertão do Brasil central, compreendido entre o rio Araguaia eseus afluentes da esquerda, a leste, o Tapajós com seus formadores a oeste, os chapadões mato-grossenses ao sul, e uma linha corresponde aproximada ao paralelo 4 (da latitude sul), que corta aqueles rios na altura dos seus grandes encachoeirados, com uma área de aproximadamente um mihão de quilômetros quadrados, até poucos anos era a região menos conhecida de todo o continente americano, talvez do mundo. Mas não era somente a vastidão deserta, aureolada de lendas e mistérios, que empolgava a imaginação e acendia o entusiasmo de todos ao iniciar-se o movimento desbravador da Expedição Roncador-Xingu. Com mais realismo, via-se também naquilo tudo um conjunto verdadeiramente formidável de recursos e condições indispensáveis para o completo desenvolvimento futur do país: na fecundidade das imensas glebas virgens, nas incalculáveis riquezas que deviam se acumular no solo e subsolo inexplorados, na impressionante pujança dos grandes rios centrais que, correndo de sul ao norte, transformar-seiam em novos “São Franciscos” da integração nacional. (Orlando e Claudio Villas-Boas, 1994, p.41-2)


Para os interessados, algumas referências:

A Marcha para o Oeste: a epopéia da Expedição Roncador-Xingu. Orlando e Claudio Villas-Boas, Ed. Globo, 1994.

Indigenismo e Territorialização: práticas, rotinas e saberes coloniais no Brasil contemporâneo. João Pacheco de Oliveira Filho (Org.). Ed. Contra-Capa, 1998.

Projeto Calha Norte: militares, índios e fronteiras. João Pacheco de Oliveira Filho & Antônio Carlos de Souza Lima. 1991, PETI/UFRJ.

Indigenismo ou colonização. Roberto Cardoso de Oliveira in Revista Civilização Brasileira, Ano IV. n. 19 e 20., P. 168-179.

A Amazônia e a política ambiental brasileira. Bertha Becker in Santos et alli. Território, Territórios: ensaios sobre ordenamento territorial. Ed. Lamparina, 2007.

A globalização da natureza e a natureza da globalização. Carlos Walter Porto-Gonçalves, Ed. Record, 2003.




*Sandoval Amparo



Geógrafo da FUNAI desde 2004, Msc. Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília,
com dissertação intitulada Sobre a organização espacial dos Kaingáng, uma sociedade indígena Jê meridional.
Reside em Tucumã, no sul do Pará, onde desenvolve atividades junto aos Kaiapó-Mebengokré.