Há algum tempo vem circulando na internet um email em nome de Mara Silvia Alexandre Costa supostamente do Depto de Biologia Cel. Mol. Bioag.Patog. FMRP – USP, que também vem assinado por Celso Luiz Borges de Oliveira, supostamente, Doutorando em Água e Solo FEAGRI/UNICAMP,ambos fazem, sem provas, referências absurdas sobre a Reserva Indígena Waimiri-Atroari até mesmo afirmam que existem bandeiras americanas e inglesas hasteadas no local. Que estrangeiros mandam no pedaço e autorizam ou não a passagem das pessoas no trecho da BR 174 na altura da Reserva.
Só que essa brincadeira passou dos limites, pedem,com ar de terrorismo, para que os destinatários repassem o email de modo a formarem uma rede.
Você que conhece a Reserva e sabe que tudo isso não passa de uma grande mentira peço ajuda na divulgação desse post. Mas se você nunca passou por lá e é um dos que recebeu esse email por favor leia com atenção a verdade sobre a história das aldeias e da construção da BR-174
No mais, podem deixar que tomaremos as providências judiciais cabíveis.
Maria Rachel Coelho
------------------------------------------------------------------------------
A SAGA DOS WAIMIRI-ATROARI
*Por João Américo Peret

Em 1967, o Cel. Mauro Carijó, Diretor do Der-Am,veio ao Rio de Janeiro “pedir” governo militar ao Dr. Gama Malcher, diretor do SPI/FUNAI que retirasse 11 aldeias de índios selvagens que flecharam seu avião. O caso aconteceu quando fazia vôos de reconhecimento para a construção da BR-174 Manaus-Roraima. Alegou que era questão de “segurança nacional” e que os índios não podiam atravancar o progresso e interesses do Brasil.
A conversa se tornou calorosa, porque Dr. Malcher, profissional de carreira em via de aposentadoria, era um ferrenho defensor dos direitos indígenas. E não tinha “medo de caretas”.
Nas fotografias aéreas apresentadas pelo Cel. Carijó, as choças “cogumelos gigantescos”,com mais de 80m de diâmetro, abrigava a população inteira. As roças eram abundantes,a região era de natureza bruta intocada com rios de águas negras,corredeiras e cachoeiras,como veias da floresta bem copada. Calculamos no total uns 6.500 índios povoando a região. Pela localização seriam os antigos Jauapery (Waimiri-Atroari).
Eram tempos de mudanças e transformações,o SPI virava FUNAI. Sem verba e com poucos sertanistas: irmãos Villas Bôas, Francisco Meireles, Cícero Cavalcante, Peret (autor) e João de Carvalho. Ocupados em trabalho de campo. Sugeri o colega Gilberto Pinto (ajudante de sertanista) para ser promovido e tratar do caso. E sugeri ao Cel. Carijó que fizesse o apoio logístico com helicóptero para acelerar os primeiros contatos,depois o Gilberto prosseguiria no sistema tradicional,mais lento e eficaz.
Em julho de 1968,o sertanista Gilberto conseguiu o primeiro contato amistoso com os ditos “selvagens”. O sr. José Queiroz Campos, jornalista assumiu a presidência da FUNAI (não entendia lhufas de índios). Mas fazia parte das “forças ocultas: políticos, latifundiários, empresários, missões religiosas”. Retiraram o sertanista Gilberto Pinto (FUNAI), e colocaram no seu lugar,o padre Giovanne Calleri, italiano, sem nenhuma experiência com índios (Missões Consolata(RR).
No final de 1968,a expedição Calleri desapareceu na floresta... O PARA-SAR (Grupamento de Busca e Salvamento –FAB) ficou 20 dias procurando e dizendo coisas... O sertanista Gilberto Pinto (retirado do serviço), recusava-se a ajudá-los nas buscas (e com muita razão). O Ministério do Interior e de Relações Exteriores, pressionaram a FUNAI para ajudar nas buscas. O Dr. Malcher, consultado sugeriu meu nome. Fui. Por razões óbvias o Cap. Lessa, comandante do grupamento não ficou feliz com minha presença. Provei minha experiência e desinteresse na mídia e assim fui incorporado.
Resolvemos o caso:os índios cortaram uns cipós; segui este sinal,sozinho,sob protesto do Major Lessa. Encontrei os restos mortais de uma mulher. Gritei chamando o PARA-SAR. Enquanto examinavam o achado, segui outra pista e encontrei os restos do Padre Calleri atrelado ao de outro homem. O PARA-SAR completou as buscas e o translado para Manaus.
Meses depois o sertanista Gilberto Pinto reassumiu a pacificação dos Waimiri-Atroari. Em 1972 consolidou os contatos e instalou Postos de Assistência. Levou os caciques e familiares para conhecerem Manaus. Era amado pelos índios que o chamavam de “Pai Gilberto”. Mas o sertanista da velha guarda,incorruptível,era contrário que a BR-174,passasse dentro das aldeias. Estranhamente Gilberto Pinto foi morto no Natal de 1974. Consta que “forças ocultas” (seriam compostas por políticos,latifundiários, empresários,missões religiosas). O sertanista Porfírio de Carvalho denunciou pessoas envolvidas no crime.consta até que nos ferimentos à bala, colocaram flechas dos índios para incriminá-los. O certo é que a família do Gilberto não pode ver o corpo.
O sertanista Porfírio de Carvalho substituiu o Gilberto e novamente pacificou os Waimiri-Atroari. Mas ferrenho defensor dos índios, protestava contra a BR-174 e as “forças ocultas”. Por isso foi enxotado da FUNAI... Desgostoso, foi morar em Brasília,fez faculdade e ficou por lá.
A BR-174 atropelou as Aldeias dos Waimiri-Atroari. E os índios que em 1967 seriam mais de 6.000 (seis mil),nos últimos anos estavam reduzidos a uns 380 (trezentos e oitenta). Suas terras passaram às mãos das ditas “forças ocultas”. Construíram a cidade de Presidente Figueiredo, a maravilhosa Cachoeira Maruaga (do cacique Atroari) virou atração turística. Construída a Hidrelétrica de Balbina que afogou o meio ambiente,e transformou a região num pântano fétido.; a Eletronorte explora energia elétrica e minério; o governo distribuiu as terras dos índios como devolutas. As índias foram prostituídas e a miséria se abateu sobre esse povo ao longo da BR-174.
Os índios ficaram numa Reserva Indígena diminuta. Mas são bravos! Não desistem nunca! E recuperaram a dignidade com a força interior!
Um jovem Waimiri foi enviado a procurar o “Pai Carvalho”, pegou carona num caminhão, em Manaus virou “menino de rua” perambulou indagando pelo “Papai Carvalho”.Alguém o achou parecido com índio e o levou para FUNAI.Na FUNAI ninguém sabia do paradeiro do “Pai Carvalho”.Colocaram-no num avião para Brasília. Lá virou “menino de rua”, até que identificado como índio foi levado para FUNAI. Com dificuldade foi descobrir o ex-sertanista Porfírio de Carvalho na secretaria do deputado Mario Juruna. Abraçaram-se e choraram de emoção.
O menino explicou no idioma:
- Papai Porfírio,você tem que voltar comigo para a Aldeia.Nosso povo ta acabando!
O ex-sertanista abandonou o emprego e voltou a Reserva Indígena que havia criado para os Waimiri-Atroari. A Aldeia só tinha jovens,os mais velhos haviam sido dizimados por doenças, promiscuidade, e a ferroe fogo, bala.
Porfírio reorganizou os índios dentro da tradição cultural indígena. Entrou na justiça e foi conseguindo indenizações pelos prejuízos que o governo e as “forças ocultas” deram a esses índios.
Contratou professores e técnicos de várias áreas para ensiná-los a ler e escrever em português, tecnologia para desenvolver projetos ecológicos e a região foi transformada em berçário da fauna, recuperação da flora, piscicultura,tartarugas etc.A região é Reserva Biológica. Por fim começou a comprar as terras indígenas que lhes foram tomadas. Amparados legalmente conseguiram autorização para construir guaritas e cobrar pedágio,nas suas terras invadidas pela BR-174. A noite eles barram a passagem de veículos e pessoas estranhas para não perturbarem a vida na Reserva Biológica e a eles, filhos da natureza.
Em 2006 os Waimiri-Atroari me convidaram para festejar o nascimento da milésima criança Waimiri-Atroari.
Mas as “forças ocultas” não lhes dão guarida. Na Reserva Indígena só entram pessoas de reconhecida idoneidade moral e de real comprometimento com a causa indígena.
São fantásticos esses índios Waimiri-Atroari. Em poucos anos tornaram-se competentes para gerir os próprios destinos. E o amigo mais amado – PAPAI CARVALHO.
*Peret, Ex-sertanista do SPI/FUNAI,58 anos ao lado dos índios
--------------------------------------------------------------------
Comunidade Waimiri Atroari comemora o milésimo nascimento :

Os índios Waimiri Atroari, habitantes da Terra Indígena homônima, situada ao norte do Amazonas e sul de Roraima atingiram a população de mil pessoas com o nascimento de um menino, filho do casal Anapidene e de Ketamy, no último dia 26 de setembro, na aldeia Yawara. A chegada do milésimo kinja, auto-denominação dos Waimiri Atroari, representa a recuperação desse povo, que esteve próximo à extinção na década de 70, com o avanço da construção da estrada que liga Manaus (AM) à Boa Vista (RR) e da atividade mineradora na região. A recuperação dos Waimiri Atroari foi possível, graças ao Programa Waimiri Atroari.
O indigenista Porfírio Carvalho, servidor aposentado da Funai, é o coordenador do Programa Waimiri Atroari, criado em 1987 para recuperar o processo de repopulação e provável extinção desse povo. Segundo Profírio, o Programa foi elaborado em conjunto com os indígenas, com a participação de profissionais e técnicos especializados em diversas áreas. O objetivo inicial foi recuperar as terras e proporcionar sustentabilidade, com qualidade de vida para esses indígenas, ameaçados com o avanço desenvolvimentista da década de 60/70. Hoje, o programa emprega mais de 80 técnicos, cuida da saúde, educação, cultura e sustentabilidade econômica desse povo e tem o site
http://www.waimiriatroari.org.br/.
Em 1969, quando Carvalho conheceu os Waimiri Atroari, eles eram altivos e guerreiros. Ao reencontrá-los em 1986, "estavam doentes, tristes, perambulando pela BR 174 (Manaus-AM a Boa Vista-RR), esmolando carona e comida dos caminhoneiros. Morriam, em média, 20% ao ano e caminhavam para a extinção", relata o indigenista, que sempre se dedicou à questão indígena, e hoje trabalha especialmente, junto aos Waimiri Atroari e aos Parakanã, no Pará, e ainda colabora com os Guajajara, do Maranhão. Carvalho não esconde sua comoção, quase paterna: "Saí contando para todos: nasceu o milésimo Waimiri Atroari!... Parece que os vejo todos, todos os mil na minha frente... Eu estou feliz. E grato a todos que me ajudaram a realizar este sonho", concluiu o indigenista vitorioso.