quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Terapia de Vida Passada – esclarecendo a técnica



*Por Arleir Franscisco Bellieny



           A TVP, conforme se tornou conhecida, é uma metodologia fundamentada na Psicologia Transpessoal, e tem como hipótese principal a Reencarnação.  O Terapeuta de Vida Passada utiliza a regressão de memória como técnica de acesso aos conteúdos psíquicos que se encontram potencializados na psique humana de forma inconsciente. A liberação desses conteúdos durante uma sessão de terapia (com duração aproximada de 90 minutos) se dá em forma de história, permitindo a pessoa que se submete ao tratamento, realizar sua catarse quer seja psíquica, física ou emocional.

           Para o Dr. Morris Netherton (1) um dos mais importantes sistematizadores da TVP, “quando o inconsciente, ao ser acionado começa a “voltar atrás”, encontramos lembranças que se estendem bastante além dos limites desta existência... Os detalhes dessas lembranças formam os acontecimentos que um paciente revive durante uma sessão de terapia de vida passada”. Prossegue ainda esclarecendo que é “fundamental a reconstituição cuidadosa dos sofrimentos e traumas emocionais”, sendo necessário, por esta razão, obter informações detalhadas acerca da morte do então personagem vivido na história, “devendo ele perpassar ativamente cada experiência da morte” (pag. 41).

           De acordo com sua experiência clínica, Netherton (2) assevera que “o trauma sem solução no momento da morte é uma causa primária de distúrbio comportamental” (p. 154), o que mostra a importância de a pessoa reviver a cena da morte dos personagens vivenciados, para melhor trabalhar a transformação no presente.

            Depois de realizada a sessão, as histórias da vida atual e da vida passada são comparadas para que se possa ter a clareza, (Terapeuta e a pessoa submetida), o que de fato precisa ser modificado, com vias a transformação do caráter, objetivo principal do processo terapêutico.

            Dr. Jorge Andréa (3) com sua brilhante inteligência e saber irretocável, que muito contribuiu  no campo dos estudos e da divulgação das evidências científicas da reencarnação, enfatiza que “... as vivências nos processos Transpessoais são de tal ordem que revelam no indivíduo a história da humanidade que é a própria história... Não podemos compreender nos estudos biotipológicos do psiquismo, isolamento dos componentes das vidas pregressas, onde se encontram as raízes que devem ser buriladas e aperfeiçoadas nos pacientes que necessitam de auxílio e esclarecimento”.

            Importante ressaltar que a regressão de memória, como técnica, atua como um “bisturi” de acesso aos conteúdos emocionais que foram reprimidos, imantados e encapsulados no campo magnético do inconsciente em possíveis existências passadas. Esses conteúdos, quando na vida atual sofrem um estímulo externo de qualquer natureza favorecem a conexão, atuando como agentes disparadores da forma-comportamento, liberando sensações, emoções e sentimentos que se cristalizaram em forma de traumas, sistemas de crenças e ou postulados de caráter, conflitando-se com os atuais hábitos, costumes e valores social e ético-moral, dificultando a vida da pessoa no atual universo psicológico em que vive.

            Em alguns casos, a pessoa poderá estar recebendo influência vibracional de presenças desencarnadas, (vítima x algoz x vítima), cuja história encontra-se interligada a vivências passadas, com comprometimentos ante a Lei de causa e efeito. Nestes casos, o Terapeuta consciente das Leis da obsessão, encaminha para atendimento espiritual paralelo em uma casa espírita de sua confiança, cujos dirigentes deverão estar informados da proposta e eficácia dessa terapêutica.

           É importante lembrar que a “obsessão espiritual” oficialmente passou a ser conhecida na Medicina como “possessão e estado de transe”, que é um item do CID - Código Internacional de Doenças - que permite o diagnóstico da interferência espiritual Obsessora. O CID 10, item F.44.3 - define estado de transe e possessão como a perda transitória da identidade com manutenção de consciência do meio-ambiente, fazendo a distinção entre os normais, ou seja, os que acontecem por incorporação ou atuação dos espíritos, dos que são patológicos, provocados por doença.
O manual de estatística de desordens mentais da Associação Americana de Psiquiatria - DSM IV (4) - alerta que o médico deve tomar cuidado para não diagnosticar de forma equivocada como alucinação ou psicose, casos de pessoas de determinadas comunidades religiosas que dizem ver ou ouvir espíritos de pessoas mortas, porque isso pode não significar uma alucinação ou loucura.

          Com frequência, recebo na minha clínica pessoas com encaminhamento espiritual para o atendimento terapêutico.

           Devo salientar que por tratar-se de uma metodologia com base e fundamentação científica, não requer da pessoa atendida, conhecimentos da reencarnação. Lembro que a reencarnação na TVP é tratada como fato científico e não como religião. Portanto, qualquer pessoa, seja qual for o credo que professe, pode se submeter ao tratamento, desde que haja indicação para tal.  Faz-se necessário esclarecer que as histórias que são construídas a partir das vivências, são únicas e exclusivas. Cada vivência libera conteúdo inédito e original, facilitando assim a realização da interface com os fatos conectados nas múltiplas experiências vivenciadas junto à pessoa.

         Convém lembrar ainda que as pessoas submetidas ao processo regressivo vivenciam histórias pertinentes as suas queixas, com isso, o fato marcante que me torna cada vez mais entusiasmado com essa técnica na clínica, é que as pessoas melhoram suas qualidades de vida ao fazer contato com as supostas causas de suas queixas.
Após compreender o que causava seus tormentos, há um crescente afastamento e/ou espaçamento gradativo dos sintomas, até a eliminação por completo.

         Parece que o fato das pessoas entrarem em contato de forma ostensiva com as causas (catarse) já promove o alívio; sentem-se mais seguras diante da vida entendendo que são pessoas normais, com suas práticas e escolhas pessoais; que são as únicas responsáveis pela conduta adequada ou inadequada; equívocos e aprendizados.  Ao assumir a responsabilidade sobre os fatos, passam a conviver consigo mesmas cobrando-se menos e até transformando suas dúvidas em certezas; suas culpas em autoperdão...                Daí para o caminho da cura.

          Esse tratamento é contraindicado somente nos casos de:

Surtos psicóticos; o indivíduo não está no juízo lógico, logo, não poderá fazer a associação das histórias, anterior e a atual. O psicótico vive uma realidade paralela.
Essa práxi terapêutica requer que a pessoa atendida, esteja em pleno gozo das suas faculdades psíquicas.  É essencial lembrar-se das vivências para poder separar o que pertence ao aqui e agora e o que pertence ao passado dessa vida.

Gravidez; o feto registra todas as emoções, pensamentos e sentimentos que a mãe estiver vivenciando, como se fosse ele.
Corre o risco de ser estimulado às lembranças de vidas anteriores, fazendo conexões com o passado, podendo trazer prejuízos psíquicos ao novo ser em formação na vida intrauterina.

            A TVP como prática terapêutica, não é “panaceia” para todos os males.
 A cura e ou os resultados esperados, somente serão obtidos se forem tomados a sério por ambas as partes. Tanto por parte da pessoa atendida quanto por parte do Terapeuta. Este deverá ter sua formação profissional em Psicologia ou, Medicina com conhecimentos em Psiquiatria, seguidos de formação em Terapia de Vida Passada, em uma das Sociedades que tenham suporte técnico operacional, que ofereçam cursos de formação, bem como, vivenciar sua própria experiência submetendo-se ao acompanhamento terapêutico, pelos terapeutas ditadas responsáveis pelo curso de formação. 




*Francisco Bellieny é Psicólogo e Terapeuta de Vida Passada, Membro fundador da SBTVP  e da AME – Rio. Expositor Internacional. Atualmente, Psicólogo no Tribunal de Justiça do Estado do Acre e na Diocese de Rio Branco/Acre, nesta, na condição de voluntário, atuando com atendimento  clínico com Psicoterapia de grupo e individual para adolescentes e adultos; Roda de conversas; Dinâmica de grupo objetivando a integração social e os relacionamentos interpessoais na área de Psicologia, nas dependências do Centro Comunitário São Marcos na Cidade do Povo.


(1)   Netherton, Morris - Past Lives Therapy - ARAI-JU-SP, 1984.
(2)   Netherton, Morris - Past Lives Therapy – São Paulo, Sumus, 1997.
(3)   Andréa dos Santos, Jorge - Psiquismo Fonte da Vida, 1ª edição Edicel 1995
(4) DSMIV ™ - 4ª edição, tradução Dayse Batista – Artmed  - Porto Alegre 1995.

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