sexta-feira, 11 de abril de 2008

A revolução na educação




*Por Maria Rachel Coelho Pereira

Tenho sido questionada nas últimas semanas sobre o que é Educacionismo. Educacionismo é uma teoria idealizada por Piotr Alexeyevich Kropotkin. Basicamente é colocar a educação como elemento central da transformação social, simbolizada em escola para todos e igual para ricos e pobres.

O Educacionista não tem partido político mas sim uma causa. No lugar de “fábrica para os trabalhadores”, nosso slogan é “ escola igual para todos”, até porque hoje “o operador” tem que ter um conhecimento muito maior do que “o operário”. A revolução hoje está em assegurar o pleno desenvolvimento da capacidade de cada um, e permitir-lhe ser remunerado de acordo com essa capacidade. As tendências de hoje são diferentes das que Marx imaginou.

O primeiro passo, de responsabilidade do Educacionista, é a nacionalização da educação, aprovando-se uma mudança na Constituição que prevê essa responsabilidade para os municípios e o projeto de lei de Responsabilidade Educacional, que define metas e padrões para o país inteiro, respeitadas as diferenças regionais, descentralizando o gerenciamento para as prefeituras. O segundo passo, que é de responsabilidade dos Educadores, é transformar a escola atual numa escola de qualidade, com professores contratados por um concurso público nacional e muito bem remunerados, com piso salarial federal alto, padrão de salário, de formação e de conteúdo. Escolas com equipamentos modernos e edificações bonitas e de qualidade.

Segundo as estatísticas, gasta-se 61 bilhões em Educação no Brasil mas desse índice o governo federal só gasta 7. O resto fica por conta das prefeituras. E sem falar nas desigualdades. Existem cidades com 20 mil reais de renda per capita enquanto outras tem menos de 600. Como pode esse prefeito dar uma escola boa e igual? Semana passada foi divulgado o resultado do Enem, nos trazendo o retrato atual. Dos 20 estabelecimentos com melhores resultados, 15 são particulares e os 5 públicos são federais. Nenhum colégio estadual do país ficou entre os 20 com melhor avaliação. Participaram do Enem, no ano passado, um milhão de estudantes, em 18.798 escolas públicas e privadas.

O Educacionismo prega uma verdadeira revolução na educação mas não é um projeto para um governo ou um partido ou um presidente. Demanda um tempo maior que um mandato.
Nossa tarefa imediata é convencer os omissos e acomodados, os descontentes, apáticos, mas ainda não corrompidos pelo conservadorismo ou pelos cargos, de que vale a pena lutar por uma causa e essa causa existe. Criar uma consciência nacional, convencer os pobres de que é possível seus filhos terem uma escola equivalente à dos ricos e convencer os ricos de que essa equivalência é necessária.

MARIA RACHEL COELHO PEREIRA é Doutoranda em Ciência Política, Mestre em Direito, Professora Universitária.

11 comentários:

Anônimo disse...

Professora
Conheço o trabalho e a história acadêmica do Cristovam Buarque. Votei nele para Presidente da República. Mas, no Brasil, Educação não dá voto. É uma pena.

Carlos Alberto da Silva
M. Cortes

Anônimo disse...

Rachel
O Prof Darcy deve estar em êxtase! Ainda que não dê voto, não estamos atrás de voto, nunca se esqueça de suas palavras:

"Sou um homem de causas. Vivi sempre pregando, lutando, como um cruzado, pelas causas que comovem. Elas são muitas, demais: a salvação dos índios, a escolarização das crianças, a reforma agrária, o socialismo em liberdade, a universidade necessária. Na verdade somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isso não importa. Horrível seria ter ficado ao lado dos que venceram nessas batalhas".

grande beijo
João Leonel - RS

Anônimo disse...

Maria Rachel
Você devia ter incluído no seu artigo os adolescentes.
O Brasil tem, ao todo, 2,5 milhões de crianças e jovens de 7 a 17 anos sem estudar.
Até na Venezuela, acabou o analfabetismo.
É uma vergonha,
milhões de brasileiros adultos sem ler placas de ônibus, excluídos do mundo letrado. Em pleno século 21.

Maria Luíza Gaglianone

Anônimo disse...

Rachel
Acho que já sou um Educacionista há muito tempo, conte comigo.
Gilberto

Anônimo disse...

Profª
Cristovam é muito bom mesmo. O Brasil merecia tanto ele na Presidência mas sem estudar o povo vai continuar sendo manipulado por políticos demagogos.
Espero sinceramente que cheguemos lá.
Mirian

Anônimo disse...

Caríssima Rachel
Excelente seu artigo. Trago-lhe, entretanto, uma sugestão: que tal escrever sobre os analfabetos candidatos a cargos eletivos, são de impressionar! Já nem sabemos quais são os mais analfabetos, se os eleitores ou os candidatos!
O Brasil avança no seu processo eleitoral, se esnoba ter suas eleições com métodos técnicos que nem o primeiro mundo tem, porém, o primeiro mundo não tem o número de analfabetos que temos. Nem eleitores e nem candidatos. Isso mostra o quanto estamos atrasados na educação. Nem condições para educar os que nos representam, temos.
Não é de interesse dos nossos representantes um projeto de educação para o país, quanto mais analfabeto o eleitor ser, melhor para eles. Aliás, pelo que tudo indica, educação, nem para eles. Candidato nenhum precisa de educação, nem mesmo os eleitos; seja prefeito, governador, presidente. Ninguém lê um livro e estão muito bem, obrigado. O que é preciso, é ter cara de pau!
meu abraço
José Carlos Couto
Brasília

Anônimo disse...

A educação não é feita de palavras, não é feita de slogans, de faixas, mas de
muito sangue, força vital para a vida, suor, desprendimento de força para o
trabalho, e, raça, vontade interior que impulsiona os nossos ideais. Gostei,
quero conhecer mais sobre o educacionismo. Se precisa de soldados acabei de me
alistar nas suas fileiras. Um Abraço.
José
turma 2008.1 Pós - M.Cortes

Anônimo disse...

Rachel
Gostei muito do seu artigo !!!!! Mas sou suspeita, né? Adoro
tudo que vc faz! Tudo a que você se dedica cresce e aparece, então estou certa de que vc vai cooperar muito com essa necessária e urgente mudança de mentalidade!
Corroboro integralmente com suas idéias e do Sen Cristovão Buarque ali expostas. A Educação deve ser a base de um povo sim !
Lindas fotos ! E super bem organizadas! Adorei seu empenho ! É empolgante!

Lucia Frota Pestana de Aguiar

Anônimo disse...

Professora
Na qualidade de professor de Física nas escolas de ensino médio do Estado do Rio de Janeiro, realmente fico feliz pela bandeira levantada, pois nosso País carece de vontade educacional.
Eu sinto na pele o que é lecionar Física para alunos semi-analfabetos que hoje são alunos do ensino médio do Estado do Rio de Janeiro.

Se eu puder ajudar a levantar mais ainda esta bandeira, pode contar comigo.

Abraços.

Seu aluno

Antonio Vicente Benedetto.

Anônimo disse...

É professora, acho que tá na hora da "EDUCAÇÃO", agora surgem os casos dos reitores e gastos com cartões corporativos.
Porque não sugere ao senador Cristovam Buarque assumir a reitoria da UnB?
Acho que só uma pessoa indiscutivelmente idônea como ele para assumir o cargo.
Carlos Eduardo - Tom Jobim -Pós

Anônimo disse...

Gostaria de cumprimentar a profa. Maria Raquel pela beleza de artigo e pela sua consciência social. Infelizmente no Brasil vive-se uma realidade na qual, além do analfabetismo infantil, que já nos assombra, há 11% de analfabetos adultos, sem esquecer dos analfabetos funcionais que alcançam o patamar de 26% dos brasileiros.
Parabéns profa. Maria Raquel, continue usando seus conhecimentos e sensibilidade para despertar da cegueira aqueles que podem fazer algo pelo social.
Abraços,
ANA ALICE ( mestranda da Estácio na área de Direitos Humanos ).